Um ano e meio antes da criação
do Movimento de Luta Popular, nascia
em Portel, região do Marajó, uma das maiores ocupações urbanas ocorridas em
cidades do Pará, nos últimos anos. Coube a Ronaldo Alves, professor da rede pública de ensino, e outros dirigentes
regionais do SINTEPP, juntarem-se às várias centenas de famílias decididas a
ocupar uma imensa área ociosa de propriedade de uma multinacional que abandonou
Portel, deixando grandes prejuízos sócio- ambientais e dividas trabalhistas,
para logo serem reconhecidos como importantes lideranças do movimento. Ronaldo Alves também foi eleito para compor a primeira direção da
Associação dos Assentados de Portel, entidade criada para implementar a luta
pela posse definitiva da área, que passaria a ser denominada de Portelinha. No
ano seguinte, ele e outros companheiros da nova ocupação estariam entre primeiros
signatários do manifesto do MLP. “Não dava para acreditar que aquilo estava
ocorrendo em Portel, uma cidade pacata, com uma população aparentemente
conformada com a realidade miserável do Marajó. No dia 20 de abril de 2008, por
volta das 17h00min, aproximadamente 1600 famílias ultrapassam os cercados da
empresa falida AMAZÔNIA COMPENSADOS E LAMINADOS S/A – AMACOL, dando início à
grande ocupação. Em uma ação rápida e desordenada as pessoas estavam determinadas
a garantir um terreno para construção de sua moradia, declarou Ronaldo Alves em
artigo que dá conta daquela experiência de luta vitoriosa. “(...) Existe ainda a disposição da diretoria da AAP de contribuir para
a construção do Movimento de Luta Popular (MLP) e, através deste, da Frente
Nacional de Resistência urbana que, como sua própria denominação indica,
trata-se de uma organização articulada dos movimentos urbanos a nível nacional
que se empenha na luta pela moradia neste país, uma organização alternativa aos
movimentos nacionais que se deixaram atrelar aos projetos governistas (...) a
extração madeireira desde 2005 havia entrado em crise pela não liberação de
projetos de manejo floresta, deixando milhares de trabalhadores desempregados e
vivendo na miséria, inclusive a AMACOL que em seu auge funcionava com mais de 1
mil funcionários. A necessária resistência pacifica à ação de pistoleiros
contratados pela madeireira durante muitos meses consecutivos e, depois, o
enfrentamento vitorioso as artimanhas da prefeitura e elites locais para se
apropriarem da área, a grande ocupação está bem diferente: ruas tomaram formas
e ganharam nomes, construções de casas são cada vez mais constantes, o comercio
está presente, a paisagem geográfica é outra; e a AAP mantém vivas a disposição
de luta e a democracia popular como método de deliberação sobre o presente e o
futuro da “Portelinha”. Com a Portelinha consolidada, praticamente um novo
bairro, o desafio agora é outro: enfrentar os grupos políticos encastelados na
prefeitura, Câmara de Vereadores e órgãos públicos em geral, que hoje tentam apagar da
memória do povo sua história de lutas e conquistas e convencê-lo de que as
melhorias na área ocupada são dádivas suas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário